Quase que diariamente vejo algum meio de comunicação veiculando matérias sobre a falta de mão de obra qualificada na área de Tecnologia da Informação no país, bem como sobre a gigante demanda de profissionais no setor.
Com base nisso, resolvi escrever este post para refletir sobre um simples questionamento: será mesmo que a tão promovida demanda de profissionais de TI no Brasil é procedente?
Sim, existem áreas específicas em que a falta de profissionais é iminente e, muitas vezes, até esperada – como por exemplo o desenvolvimento em COBOL. Entretanto, muitas vezes a crescente demanda não é fruto somente da ausência de profissionais qualificados, mas também da falta de reconhecimento pelo valor do profissional.
A verdade é que profissionais brasileiros cada vez mais estão buscando oportunidades no exterior, principalmente nos Estados Unidos ou na Europa. Por quê? Porque se sentem valorizados lá. O salário para um desenvolvedor Python qualificado nos EUA é superior a 50.000 dólares americanos por ano.
Nivelando por baixo, se uma empresa dos EUA contratar um desenvolvedor Python na modalidade work made for hire, tradicionalmente adotada para trabalhos remotos, o salário anual¹ será de R$140.000 por ano, ou R$11.666,66 por mês. Descontando os impostos e taxas, ainda assim restam mais de R$7.500 mensais para o profissional.
No Brasil, por outro lado, não é difícil encontrar vagas onde as empresas oferecem 1 ou 2 mil reais mensais para desempenhar exatamente a mesma função. “Naturalmente” o vale-alimentação, vale-transporte e tantos outros valores serão debitados desse salário.
Se nesse momento você está pensando “assim fica fácil, comparar o mercado do Brasil com o dos EUA”, eu lhe pergunto: por que não? O mundo da tecnologia é globalizado e existe uma demanda mundial por profissionais de TI.
As empresas estrangeiras estão cada vez mais contratando profissionais vindouros de países em desenvolvimento por que entendem as expectativas que esses profissionais têm em relação a elas. O que me frustra é: se as empresas estrangeiras entendem isso, por que muitas empresas daqui não entendem?
Conheço diversos profissionais brasileiros que trabalham para empresas estrangeiras e, do ponto de vista de um profissional de TI, aqui está o que consigo enxergar:
- Comprometimento: os profissionais permanecem na mesma empresa por anos
- Reconhecimento e valorização: os profissionais são reconhecidos e prosperam de acordo com seu desempenho
- Investimento: as empresas investem na capacitação dos profissionais, bem como levam seus funcionários para participar de reuniões na própria sede
Então, se você é um empresário da área e está lendo esse texto, entenda: o maior problema não está na demanda, mas sim na oferta. Na sua oferta. Saiba reconhecer o valor que o profissional tem para sua empresa. Um profissional qualificado pode até se submeter a um salário de 1 ou 2 mil reais mensais enquanto não surge uma oportunidade melhor. Na primeira chance que aparecer, ele irá se desligar da sua empresa.
E por favor não entendam errado o ponto de vista aqui proposto: não estou menosprezando quem recebe 1 ou 2 mil reais por mês. Apenas estou comparando a realidade proposta pelo mercado de TI no Brasil e nos EUA.
Por fim, ouso afirmar que não são as empresas que estão com falta de profissionais qualificados de TI aqui no Brasil, mas sim os profissionais que estão com falta de boas oportunidades para continuarem trabalhando na área por aqui.
E você, o que pensa em relação a isso tudo? Deixe sua opinião!
¹ Cálculo efetuado com o dólar americano à R$2,80
Marcos Lucas says
Excelente texto!
Posso dizer por experiência própria, também sou um dos que buscam oportunidades no exterior por conta da valorização profissional.
A questão fica ainda mais triste quando você faz uma simples comparação do que consegue adquirir lá fora com o mesmo trabalho que aqui, obviamente existem diferenças entre moedas e tributos, mas que é vantagem é!
Abraço,
Marcos Lucas
Tiago Hillebrandt says
Olá Marcos,
Sim, e estou certo de que boa parte dos profissionais que tiverem alguma oportunidade no exterior não a recusarão. E se isso se concretizar, em alguns anos as empresas brasileiras serão obrigadas a aumentar o valor da oferta. E é nesse momento que vamos viver uma real demanda de profissionais, e não uma demanda de “escravos” como podemos ver hoje em muitas empresas.
Abraços
Lucas says
Excelente matéria, parabéns
Tiago Hillebrandt says
Valeu Lucas, fico feliz que tenha gostado 🙂
Paulo says
Penso a mesma coisa quando vejo essas reportagens. O que elas não dizem é que as empresas exigem conhecimento ‘nível engenheiro NASA’ oferecendo salário de estagiário.
Tiago Hillebrandt says
Concordo, e achei genial sua definição.
Fernando Vieira says
Excelente matéria!
Tiago Hillebrandt says
Obrigado Fernando, fico feliz em ouvir que curtiu a matéria 🙂
Thiago Nalli says
Gostei do texto xará.
Quando vejo nos noticiários algo do gênero, costumo dizer que não estamos com “falta de mão de obra qualificada” e sim “falta empresas qualificadas”.
Não tenho o inglês, então o exterior não é minha praia, não tenho formação superior (Ainda rsrs), mas tenho o conhecimento adquirido em 15 anos de T.I. Porem, como posso fazer Faculdade, Inglês, LPI (que agora com aumento do dólar, esta bem distante a realização) para ganhar 1.500 que é o que vejo nos anúncios? Minha mãe chega brincar comigo dizendo:
– Filho, mal tenho o ensino médio, não sei usar esse computador, e meu salário de vendedora de stand na praia é 1.800. Vale a pena mesmo continuar nesse negocio de informática?
Esse ano que passou (2014) gastei 5K em cursos de atualização em Linux, e nem um “parabéns” recebi de minha empresa. Ta complicado.
Paulo Cesar Rodrigues says
Concordo plenamente!
Sim essa é a realidade do nosso Brasil, vagas muitas e muitas, mas não a valorização da mão de obra.
Esse fato também se dá porque ainda temos muitos Profissionais sem Graduação ou Técnico na área de TI, o que este a fim de ganharem experiência assumem cargos com valores salariais baixos.
Como disse não que estejam errados é necessidade!
Acredito que só e somente só teremos nivelamentos e condições reais de Trabalho aqui no nosso país com a criação de um Conselho regulamentador.
Tá longe mas ainda acredito.
Douglas says
Excelente matéria, parabéns!!